
Anne Brontë (1820-1849) desafia as convenções sociais do século XIX neste romance, A senhora de Wildfell Hall. A protagonista da obra quebra os paradigmas de seu tempo como uma mulher forte e independente, que passa a comandar a própria vida. Ao chegar à propriedade de Wildfell Hall, a Sra. Helen Graham gera especulação e comentários por parte dos vizinhos. O jovem fazendeiro Gilbert Markham, por sua vez, desperta um grande interesse pela moça e, aos poucos, vai criando uma amizade com ela e com seu filho. Porém, os segredos do passado da suposta viúva e seu comportamento arredio impedem que o sentimento nutrido pelos dois se concretize, fazendo com que Gilbert tenha dúvidas sobre a conduta da moça. Quando a Sra. Graham permite que ele leia seu diário a fim de esclarecer os fantasmas do passado, o rapaz compreende os tormentos enfrentados por aquela mulher e as razões de suas atitudes. Ela narra sua história até então, desde a relação com um marido alcoólatra e de conduta abominável até a decisão de abandonar tudo em nome da proteção do filho.
A SENHORA DE WILDFELL HALL nos apresenta uma personagem que ao primeiro contato é reservada e demonstra não dar a minha para os seus novos vizinhos.
O nosso protagonista é o jovem Gilbert Markham, mas fica claro logo nos primeiros capítulos que quem rouba a cena, e o coração de nosso jovem fazendeiro, é a misteriosa Helen Graham que na surdina se instala na mansão Wildfell Hall que para muitos era um lugar abandonado e um tanto misterioso. Dona de uma personagem forte e que não se deixa intimidar pela opinião alheia ela demonstrar querer somente viver para cuidar do seu pequeno filho chamado Arthur.
Minha agonia no decorrer da leitura foi tentar desvendar as cicatrizes da Helen e o porquê de ser tão reservada e zelosa com o aventureiro Arthur chegando a me assustar a sua proteção demasiada, a mulher não deixa o filho se afastar muito dos seus olhos, tem que estar sempre a uma distancia segura e brincando com objetos que não tragam risco!

Mas eis que a medida que o romance começa a brotar delicadamente entre Gilbert e Helen somos agraciados com a história em detalhes da nossa viúva através do seu diário que é compartilhado para o amado ver e conhecer de fato a mulher por quem nutre sentimentos.
No início do enredo não me vi muito envolvido pois temos um jovem que vive num ambiente cercado de pessoas frívolas. Logo, não se tem ingredientes que despertem aquela vontade de se manter na história, mas quando chega Helen e nos apresenta a muitos custo sua vida é impossível não devorar as páginas e torcer para que o diário com o relato da protagonista nunca acabe.
Com uma postura corajosa, conhecemos uma jovem que se rebelou contra um sistema familiar tradicionalista e fugiu para salvar o filho da perversidade paterna. A história da Srª. Graham mexe com corações emotivos e só posso exaltar a força de vontade dessa mulher que faz de tudo para manter em segurança aqueles a quem ama.
A SENHORA DE HILDFELL HALL é um livro para ler com calma, é preciso saborear cada página e respirar todo o enredo profundamente. Posso afirmar que no final você irá colher bons frutos dessa jornada de 504 páginas. É uma linda história de amor tentando vencer os obstáculos de um tempo onde adultério era proibido e o amor devia ser encarcerado em nome da religiosidade e família.
A autora consegue tratar com maestria assuntos que em sua época não eram comentados. Mesmo se escondendo através de um pseudônimo Anne Brontë reuniu forças para apresentar a realidade das mulheres de seu tempo que não podiam escolher os seus maridos, que eram prendidas em casamentos infelizmente pelo resto da vida e que divórcio era algo inconcebível seja socialmente como religiosamente.

Com impecável construção de personagem e histórico pessoal, a autora soube dosar e apresentar ainda por cima a história de personagem secundários que trazem prazer e ódio tornando o enredo rico em todas as escalas da ficção.
Claro que tenho algumas ressalvas (traduzindo: desprazer) em certas atitudes dos personagens, mas que numa reflexão profunda é compreensível. Afinal, eles refletem uma sociedade de outro século onde o livre arbítrio não existia e o julgamento familiar era um peso colossal em cima da vida de alguém.
Com uma capa muito bela, a obra possui páginas amareladas, fonte das letras em tamanho relativamente pequeno e capítulos medianos. A narrativa é em primeira pessoa alternando orca com o Gilbert ora com a Helen.

É uma ótima leitura para aqueles que buscam clássicos que enfrentaram o seu tempo, que buscaram trazer reflexão sobre assuntos tradicionalistas que moldavam o mundo em que foram criados e que tiveram sua parcela de ajuda na concepção de nossa sociedade atual.
Livros de "época" me encantam por si só, mas juntando isso à crítica só aumenta ainda mais o meu prazer. Algo me diz que é um história que eu gostarei de ler. Sim, gostarei, no futuro, porque acabo de colocar na minha lista!
ResponderExcluirOi, Fernanda ^^
ExcluirGosto demais de livros com críticas sociais. Como você parece gostar só posso te dizer uma coisa: LEIA ESSA OBRA EM 2018!!!
Ando pensando em ler clássicos e essa autora está na minha listinha faz algum tempo. Nunca tinha lido resenha desse livro, embora já queira lê-lo faz muito tempo. Fico feliz que tenha gostado e que mesmo tendo muitas páginas a estória não ficou cansativa. Já adicionei na listinha!
ResponderExcluirBeijinhos!
Oi, Camila ^^
ExcluirConfesso que tenho certa dificuldade na leitura de clássicos mais por conta de me ater aos enredos do que a o momento histórico em que foi criado.
A Senhora de WILDFELL HALL além de ser um clássico esquecido e não reconhecido é um livro profundamente crítico. Recomendar é pouco. :)