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O AMOR E SUA FORMA DE SER

Por Leandro Salgentelli •
sábado, 29 de junho de 2019



Tenho uma amiga que implica comigo quando falamos sobre o divino, o sublime, o superestimado: o amor. Ela acredita em amor de cupcake, em contos de fadas, em amor destinado. Típico de filme romântico. Quando ela começa a falar sobre o amor e toda sua forma de ser eu até viro o olho, claro que fica doida de raiva. Ela é o estilo Cazuza: “E por você eu largo tudo carreira, dinheiro, canudo.”.

Mas no fundo, eu a admiro. Quem tem coragem, numa modernidade como esta que vivemos, de abrir mão da carreira, do dinheiro e das noitadas? Ela tem coragem! Para ela, sem amor nada faz sentido.

Para aqueles que vivem de noitadas a ouvir falar do amor soa como piada. Outro dia tivemos uma longa conversa sobre a reciprocidade no amar. Ela acredita no amor longevo. Eu acredito no amor também, mas tenho as minhas ressalvas, acredito no amor flexível.

Ela aposta num amor que precisa ser teimosamente escrito todos os dias, numa insistência que, aos olhos dos outros, beira ao absurdo. Ela acredita que ainda há loucos por aí dispostos a rabiscar uma história, um folhetim, um poema que seja, desde que prove ao mundo que, apesar de tudo, o amor sempre vale a pena.

É linda a maneira que vê amor. Entretanto, tenho saído bastante e percebo que a juventude está mais preocupada com o prazer a construção do sublime. Nada a opor, cada um sabe de si. Mas orgulhosamente, hoje, dessa tribo não faço parte. Sexo por sexo vale a pena, mas percebo que preenche mais o vazio existencial. A euforia, como se sabe, no dia seguinte deixa a gente com ressaca e com uma dor de cabeça terrível.

Mas voltando ao assunto, penso que amor é uma construção que só vale a pena quando ambos estão dispostos a regar todos os dias. De nada adianta um regar se o outro permanecer esquivo.

Numa época em que há motivações para tudo, os coach de relacionamentos estão aí para isso: para ensinar como você deixar um homem louco por você em trinta minutos. Se é possível? Não ouso opinar.

Acredito no amor em toda sua forma de ser. Pode ser que tenha chegado a você por um período, apenas. Talvez estejam juntos até hoje. Talvez vão se encontrar amanhã.

Acredito no amor sem script, àquele que não obedece às convicções com hora e data marcada. Aquele amor que não negocia filho, casamento, profissão. Amor, apenas. Nus um para o outro. Um amor desinteressado pelo material, que obedece apenas às vontades e os desejos.

Acredito em amor que toca, que sente, que chora. Amor que ri, que briga, que sente saudade, que devora. Amor que transborda no olhar. Amor que se provoca.

Como diria minha amiga, orgulhosamente desconfio do amor, mas, para sua surpresa, admito, acreditar está na minha essência.

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1 comentários:

  1. Verdade. Concordo on a maior parte do texto. Amor é uma convenção social, pq não, e não há pq manter-se preso se não existe mais felicidade, prazer e bem estar...

    Ótimo texto

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