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[FRANCA MENTE] ALTAS GELEIRAS

Por Francine S. C. Camargo •
domingo, 30 de junho de 2019


Bem lá em cima do desfiladeiro, fez-se eco de suas palavras, atingindo penosamente meu universo: vontade de me crispar o mais que puder até desvanecer na paisagem e nada sobrar de mim, nada de meus erros, mentiras e brumas.

Estava tão ocupada em decidir quais partes de mim me fariam tão mais eu que não vi quando passou, escancarando suas verdades. Mas senti quando hesitou seu coração diante de mim, parou por instantes até compassar-se ao meu. Bateram juntos em inextricável segredo e já não soube a quem pertenciam. O gigante mundo, porém, não despertou de sua inocência e continuou a nos sorrir imprudentemente.

Tinha tanta sede, tanta força, tanta náusea. Mas não morreria dessa sede e me enovelaria nas entranhas de dentro de mim; força se extinguiria. De amor não se morre. Do amor se perde. De amor se mata. Escapa.

Não quero te doer.

Não quero te partir.

Não quero te cuspir as frases nunca ditas.

Mas fiquemos de mãos dadas só mais um pouco, pois o dia urge e eu não quero sair. Fiquemos parados nesses lenitivos instantes que nos restam.

Antes que os corações ofendidos se poluam de fraudes e não se perdoem mais.

Antes que os ventos me soprem de volta às minhas altas geleiras.

Estou sozinha na noite e o silêncio é demais para mim.

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