Título da Obra: Olhos D'água
Autor (a): Conceição Evaristo
Autor (a): Conceição Evaristo
Ano da Publicação: 2014
Nº de Páginas: 116
Editora: Pallas
Onde Comprar: AMAZON | AMERICANAS | SUBMARINO
Em "Olhos d’água" Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.
Nº de Páginas: 116
Editora: Pallas
Onde Comprar: AMAZON | AMERICANAS | SUBMARINO
Em "Olhos d’água" Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.
CONCEIÇÃO EVARISTO É UMA das principais vozes negras da literatura nacional dos últimos anos. A mineira de Belo Horizonte, mudou-se ainda muito jovem para o Rio de Janeiro. Conciliou os trabalhos como empregada doméstica com os estudos, formando-se em 1971 no antigo Normal Superior, cursou Letras na UFRJ e passou em concurso público. Mestre em Literatura pela PUC e Doutorada em Literatura Comparada pela UFF.
O romance Ponciá Vicêncio, de 2003, abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. A obra foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007. Atualmente leciona na UFMG como professora visitante.
OLHOS D'ÁGUA, obra que estamos resenhando nesse momento, foi escrita em 2014 e publicada pela editora Pallas.
crédito de imagem: Livro e Café |
(Maria Davenga)
A obra trata em seus 15 contos dos sofrimentos e adversidades que os protagonistas, em sua totalidade mulheres negras, vivenciam em suas vidas em comunidades carentes frente à violência, a morte e o amor.
No conto Maria, uma empregada doméstica que volta para casa depois de um dia de trabalho, é um dos mais inquietantes, se tem a seguinte passagem.
Conceição aborda o tema estupro em 'Quantos filhos Natalina teve?'. A personagem desse conto engravida várias vezes, vira mãe de aluguel dos patrões, vê-se obrigada a dar os filhos a desconhecidos, no desfecho da trama, acaba sendo estuprada. O final deste conto é bem chocante, aliás, todos os contos possuem um final inesperado e, quase sempre, violento.
O conto 'Di lixão', o adolescente recorda-se da mãe que lhe espancava. Não gostava dela, mas quando é acometido de dores lancinantes, ele se deita “retomando a posição de feto”, como a buscar subconscientemente o colo de uma mãe que não existe mais. Em Os amores de Kimbá, eu definitivamente amei este conto, nem mesmo o referencial feminino que Kimbá conhece entre os seus permite-lhe que escape ao trágico relacionamento a três que vive com Beth e Gustavo. Um dos poucos contos que a autora abordou a homossexualidade masculina de forma sutil.
Em 'A gente combinamos de não morrer' (recomendo muito a leitura desse conto). Também é uma mulher anônima que tenta salvar a vida de Ardoca, um homem “cansado por todos os dias, todos os trabalhos, e por toda a vida”. Algumas cenas mostradas na história de 'Ei, Ardoca' lembram “Uma vela para Dario”, de Dalton Trevisan, principalmente no que concerne à morte de um homem em local público e à espoliação de seus pertences.
A morte incendeia a vida, como essa estopa fosse. Molambos erigem fumaça no ar. Na lixeira, corpos são incinerados. A vida é capim, mato, lixo, é pele e cabelo. É e não é.
(A gente combinamos de não morrer)
Escrever é uma maneira de sangrar
(A gente combinamos de não Morrer)
Os contos de Conceição Evaristo apresentam uma significativa galeria de mulheres — Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta ou serão todas a mesma mulher captada e recriada no caleidoscópio da literatura em vários instantâneos da vida? Apenas lendo para saber. E essa é umas das melhores leituras que fiz esse ano, certeza que será uma das suas também.
Possuímos poucos contistas no nosso país, e não é algo que devemos nos orgulhar, muito pelo contrário. Contos como os de Conceição Evaristo, bem escritos, com panos de fundo em que a realidade salta a página e nos causa um tapa de realidade foram — e ainda são — o suprassumo do melhor da literatura nacional. Além de conceição temos Giovane Martins, que trarei na próxima resenha, aqui no Refúgio.
Conceição ganhou um Jabuti em 2015 com OLHOS D'ÁGUA e seus livros foram traduzidos para mais de 25 idiomas.
Em 2019 será homenageada na 61ª Edição do Prêmio Jabuti pelo conjunto de sua obra.
Conceição aborda o tema estupro em 'Quantos filhos Natalina teve?'. A personagem desse conto engravida várias vezes, vira mãe de aluguel dos patrões, vê-se obrigada a dar os filhos a desconhecidos, no desfecho da trama, acaba sendo estuprada. O final deste conto é bem chocante, aliás, todos os contos possuem um final inesperado e, quase sempre, violento.
O conto 'Di lixão', o adolescente recorda-se da mãe que lhe espancava. Não gostava dela, mas quando é acometido de dores lancinantes, ele se deita “retomando a posição de feto”, como a buscar subconscientemente o colo de uma mãe que não existe mais. Em Os amores de Kimbá, eu definitivamente amei este conto, nem mesmo o referencial feminino que Kimbá conhece entre os seus permite-lhe que escape ao trágico relacionamento a três que vive com Beth e Gustavo. Um dos poucos contos que a autora abordou a homossexualidade masculina de forma sutil.
Em 'A gente combinamos de não morrer' (recomendo muito a leitura desse conto). Também é uma mulher anônima que tenta salvar a vida de Ardoca, um homem “cansado por todos os dias, todos os trabalhos, e por toda a vida”. Algumas cenas mostradas na história de 'Ei, Ardoca' lembram “Uma vela para Dario”, de Dalton Trevisan, principalmente no que concerne à morte de um homem em local público e à espoliação de seus pertences.
A morte incendeia a vida, como essa estopa fosse. Molambos erigem fumaça no ar. Na lixeira, corpos são incinerados. A vida é capim, mato, lixo, é pele e cabelo. É e não é.
(A gente combinamos de não morrer)
Escrever é uma maneira de sangrar
(A gente combinamos de não Morrer)
Os contos de Conceição Evaristo apresentam uma significativa galeria de mulheres — Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta ou serão todas a mesma mulher captada e recriada no caleidoscópio da literatura em vários instantâneos da vida? Apenas lendo para saber. E essa é umas das melhores leituras que fiz esse ano, certeza que será uma das suas também.
Possuímos poucos contistas no nosso país, e não é algo que devemos nos orgulhar, muito pelo contrário. Contos como os de Conceição Evaristo, bem escritos, com panos de fundo em que a realidade salta a página e nos causa um tapa de realidade foram — e ainda são — o suprassumo do melhor da literatura nacional. Além de conceição temos Giovane Martins, que trarei na próxima resenha, aqui no Refúgio.
Créditos de imagem: Bahia Notícias |
Conceição ganhou um Jabuti em 2015 com OLHOS D'ÁGUA e seus livros foram traduzidos para mais de 25 idiomas.
Em 2019 será homenageada na 61ª Edição do Prêmio Jabuti pelo conjunto de sua obra.
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe sua opinião para nós do Refúgio Literário