"A principal mentira é a que contamos a nós mesmos."
(Nietzsche)
Minta para mim.
Quero seu rosto com um meio sorriso de quem esfarrapa uma sinceridade que nunca existiu. Diga que vai, que vem, que vou, que sim, mas diga para mim.
Minta bem.
Deixe a verdade no caminho de casa, feche a porta e não a deixe entrar, pois a noite nos basta.
Minta para mim ao se achegar.
Durma em paz, sem incômodos, são os seus erros que me mantém acordada. Enquanto velo seu sono, minha cabeça gira, meu corpo queima, mas me resguardo para não intoxicar nessas chamas de medo.
Minta para mim, sem pressa de parar.
As sombras que habitam seus dias não interessam nesse meu jogo de azar, pois a escuridão me fere os olhos e preciso de perspectiva, lucidez, nem que seja em preto e branco.
Minta mais um pouco.
Saiba você onde vai, mesmo sem saber onde pisa; observe você quem supõe ser, mesmo que em pedaços; só não me diga onde ou porque vai, que te espero voltar.
Minta até o despertar.
Fique comigo, mesmo sem encaixar: num abraço distorcido, ou em um beijo a fraquejar. Avance-me, seja em mim, seja-me, ainda que minha pior parte, em segredo.
Minta em toda sua habilidade, em totalidade.
Não revele o quanto sente, tampouco que não sente.
Minta sempre.
E se gritar que me afaste, não acatarei.
Minta, já que a dúvida tortura.
Minta, que a verdade dói mais e mata aos poucos.
Minta em nossa realidade, que é um duelo de almas que mal se conhecem.
Minta, que não sei mais onde está.
Mas minta ainda hoje
que eu só finjo acreditar.
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe sua opinião para nós do Refúgio Literário