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QUE TRAZES PARA MIM, COELHINHO?, por Francine Camargo

Por Bruno Marukesu •
domingo, 1 de abril de 2018
“Sejamos como a primavera que renasce cada dia mais bela...exatamente porque nunca são as mesmas flores.”
(Clarice Lispector)
 Um ovo, dois ovos...Coelhinho da Páscoa, aceito de alma agradecida um naco de chocolate, mas o que quero que traga nessa madrugada muda é renascimento.
 É o novo que me atrai, pois o passado que aqui está pede para partir.

 Não é trabalho imediato se atirar ao novo quando o velho já não funciona tão bem, ao que é diferente; mudar de margem para seguir um rumo mais aprazível, jogar-se pela janela sem saber o que vai encontrar lá embaixo, seguir uma nova linha, menos reta do que a anterior.
Não é fácil esvaziar os bolsos dos medos que a gente leva consigo por anos consecutivos. Nem cortar as mechas que não crescem bem, imaginando um recomeço. Renascer não é moleza, implica em ter morrido previamente, mesmo que metaforicamente, e soa doloroso, afinal, não se busca voluntariamente chegar ao fim dos trilhos.

 Nem sempre se tem a chance de apagar o que estava escrito na lousa, no caderno, no coração. Algumas letras viram tatuagens na alma lembrando a gente, de tempos em tempos, dos desacertos, deslizes e arrependimentos passados e, mesmo que se escreva por cima uma nova história, a marca fica, fina e escondida, mas perene.

 Enquanto isso, enquanto as negações e bloqueios diários tomam vida e reprimem a nossa vida, as oportunidades vêm e vão, nem sempre voltam.

 Então a gente acha que nunca seria capaz de escrever um romance; que nunca seria capaz de publicar uma palavra sequer; que não conseguiria emagrecer, ser mãe, entregar-se a um amor, correr, ser livre. A gente acha que não seria capaz de doar-se a si mesmo, de respeitar a si mesmo e deixar fluir. A gente acha que jamais seria capaz de pedir ajuda e assumir as fraquezas. A gente acha que dormir no escuro e escutar todos os sons do planeta seria um problema, quando, na verdade, o problema é o silêncio, são as trevas que moram ali dentro, que gritam pedindo para ficar. Mas é possível deixá-los partir.

 Estamos sempre começando. Continuaremos. E seremos interrompidos. Quem nos obstrui pode ser um desânimo, uma descrença, uma atitude impensada, uma palavra sem cuidado. Ao que parece, quem nos paralisa somos nós mesmos, pois é tão mais simples parar.

 É hora de retomar. Há muito romance para escrever, muita sede para esgotar, muita paz para conquistar e muita vida para iluminar. As horas perdidas ficarão para trás, mas o relógio não parou e o tempo pode novamente ser um grande aliado.

 E se for necessário, que nos queimemos em nossas próprias chamas, pois é das cinzas que ressurgiremos. E que cada dia seja uma espécie de Páscoa. Com chocolate também, é claro.

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26 comentários:

  1. Adorei o texto. Obrigada por compartilhar conosco.

    "E se for necessário, que nos queimemos em nossas próprias chamas, pois é das cinzas que ressurgiremos. E que cada dia seja uma espécie de Páscoa. Com chocolate também, é claro."

    Beijos.

    www.alempaginas.com

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    1. Francine S. C. Camargo6 de abril de 2018 22:18

      Obrigada, Karini.

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  • Greice Blogando Livros4 de abril de 2018 10:41

    Uooooooooooooooooooooooooooooooouuuuuuuuuuuuuuuuuu. Que texto foi esse, que está um arraso?
    Nossa, que sentimentalismo sensacional que faz pensar e racionalizar sobre uma data que muitos levam para o lado do capitalismo e quando na verdade deveria ser um momento de reflexão? Parabéns pela sensibilidade e de fazer ver que sempre teremos momentos de medo e que sempre podemos renascer.

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    1. Francine S. C. Camargo6 de abril de 2018 22:18

      Sim, Greice, renascer é tão necessário quanto deixar certos sentimentos morrerem. Obrigada pelas palavras.

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  • Tô aqui toda trabalhada na emoção depois de ler seu texto... "Nem sempre se tem a chance de apagar o que estava escrito na lousa, no caderno, no coração. Algumas letras viram tatuagens na alma lembrando a gente, de tempos em tempos, dos desacertos, deslizes e arrependimentos passados e, mesmo que se escreva por cima uma nova história, a marca fica, fina e escondida, mas perene."
    Que coisa mais linda e intensa!!!
    Beijos

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    1. Francine S. C. Camargo6 de abril de 2018 22:16

      Obrigada. Emocionante é ler um comentário como o seu.

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  • Aline M. Oliveira7 de abril de 2018 13:11

    Olá! Tão bom ler um texto assim. Chega nessa época muita gente se esquece do real significado, do renascimento, da nova chance. Acredito que independente da religião, se todos percebessem o motivo dessa celebração seria tudo um pouco mais fácil de se levar.. Já que estamos sempre começando e recomeçando. Lindo texto!

    Bjoxx – http://www.stalker-literaria.com/

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    1. Francine S. C. Camargo19 de abril de 2018 21:51

      Obrigada, Aline.

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  • Que texto mais lindo!! Há muito se esqueceu do verdadeiro significado desse dia, confesso que até eu acabo deixando de lado o que realmente importa. É uma ótima reflexão o que você escreveu, parabéns!
    beijos
    www.apenasumvicio.com

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    1. Francine S. C. Camargo19 de abril de 2018 21:53

      Obrigada, Dessa. Quando se vai além do feriado em si e de tantas outras datas comemorativas, a gente percebe que tudo pode ser motivo para se analisar, renovar, crescer. Obrigada pelo carinho com suas palavras.

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  • Uauuuuuuuuuuu!!!

    Rapaz!! Que tiro foi esse?

    Amei o seu texto! Me deixou emocionada e extremamente reflexiva. Você passou realmente o que significa o dia e o que deveria de fato acontecer nessa data!

    Parabens! Parabens de verdade!

    beijos,
    Mayara

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    1. Francine S. C. Camargo19 de abril de 2018 21:56

      Mayara, que tiro foi esse? Hehehe. Sabe, escrever só tem significado para mim se puder causar isso que você relatou. Obrigada pelo carinho.

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