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[RESENHA] DOIS GAROTOS SE BEIJANDO

Por Bruno Marukesu •
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Onde Comprar: SUBMARINO

DOIS GAROTOS SE BEIJANDO apresenta a história de sete jovens personagens: Harry, Craig, Neil, Peter, Avery, Ryan, Cooper e Tariq. Todos tem o seu momento de destaque no livro com exceção de Tariq que me pareceu mero coadjuvante do entrelaçado enredo.


 Com uma escrita simples, fluída e carregada de emoção, as cenas são narradas e descritas por espíritos gays daqueles que morreram em decorrência da AIDS, na década de 80, quando a doença fora descoberta.

 Harry e Craig são ex-namorados, mas agora amigos, que estão tentando quebrar o recorde mundial do Guinness World Records de beijo mais longo do mundo tendo auxílio de Tariq que fica responsável pela transmissão online de todo o acontecimento para não haver contestação da veracidade do beijo. Também há algumas pessoas como testemunhas, incluindo os pais de Harry. Os dois guris podem ser considerados os personagens principais já que o próprio livro leva em conta o recorde que estão tentando quebrar.

 No decorrer dos capítulos conhecemos um pouco dos sentimentos de Harry e Craig e logo viajamos para a vida de Neil e Peter que namoram há anos. Neil sabe que seus pais sabem que ele é gay mas não há conversa sobre, nenhum momento houve menção ao fato e isso o frustra. Já Peter é bem avoado mas ama demais Neil.

 Longe dali, presenciamos o momento em que Avery conhece Ryan num baile de escola e nos próximos dias vemos como é conhecer alguém totalmente desconhecido, sair da sua zona de conforto e se expor a outro ser humano. Tudo parece ser fofo, mas Avery está em dúvida se revela um segredo a Ryan para saber se de fato o guri gostou dele.

 E por último, e não menos importante, conhecemos o personagem Cooper. Diferente dos outros personagens que sabem o que querem e  que são gays assumidos (pelo menos a maioria), Cooper é um guri que vive anonimamente nos aplicativos de relacionamentos gays, para ele tudo é um jogo e está cansado, quer sentir algo, algo que o tire do estado foda-se em que se encontra. Ele perdeu toda a esperança, se é que um dia teve, e está à procura de um sentido para viver. Nunca se relacionou com um guri, pelo menos é o que fica claro e, num dia, após esquecer o computador aberto em site de bate-papo gay, é questionado pelos pais que não acreditam no que o filho é. O guri foge e roda pela cidade à procura de algo que desconhece, decide marcar encontros mas são como ele imaginava que fossem. Cooper não sente nada.

 Sete histórias com uma única semelhança: todos são gays.
Nenhuma dessas pessoas falando conhece Craig e Harry, nem se importam com quem Craig e Harry são. Assim que você para de falar sobre indivíduos e começa a falar sobre um grupo, seu julgamento tem uma falha. Cometemos esse erro com frequência.
 É tão fácil julgar o próximo, ver o diferente como algo errado. David Levithan cria personagens tão reais que não é difícil vê-los como representações de amigos nossos. Em todos os personagens me identifiquei pois passei por acontecimentos semelhantes aos apresentados, o sentimento de representatividade é imenso. Dois Garotos Se Beijando não é somente a história de guris tentando quebrar um recorde mundial, é uma mensagem reflexiva para tentarmos entender nossos filhos, amigos e vizinhos, é um meio de tentar entender os jovens, o outro. Vocês podem estar se perguntando como um livro com um enredo tão bobinho à primeira vista pode conter aprendizado tão profundo. A arma para tal feito está nos relatos dos espíritos gays que tiveram ceifadas suas vidas por conta da AIDS, que sofreram nas sociedades que o julgavam como causadores de uma doença grave e que não viveram para testemunhar os avanços de controle contra a doença.

 Duzentas e poucas páginas são pouco para lermos os relatos de vidas desses espíritos, mas é um passo inicial para tentarmos entender o outro, imaginar o sofrimento que os gays tiveram no passado e parar de olhar somente para os nossos próprios umbigos e o aqui e agora.

 A divisão de capítulos se acontece com um pequeno espaço que varia de tamanho, não tem como saber a ordem de quem vai aparecer, é tudo uma surpresa. As páginas são amareladas e a fonte das letras é grande grande, aliada à escrita fluída do autor possibilita uma leitura rápida e profunda. A capa do livro é muito linda com palavras formando a silhueta de dois garotos se beijando. :D

 Recomendo a leitura para todos aqueles que querem abrir o seu coração para o outro, que querem entender o desconhecido, que buscam sair da ignorância e que abracem o dito "diferente".
Foto: Divulgação
CURIOSIDADE: o recorde mundial do beijo mais longo do mundo foi baseado no recorde real que aconteceu em 18 de setembro de 2010. Os universitários Matty Daley e Bobby Canciello se beijaram por 32 horas, 40 minutos e 30 segundos!

O.B.S = livro lido para o Desafio I Dare You 2.0. <1º ITEM>



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8 comentários:

  1. Oii!
    já li algumas obras do David, um deles foi Will&Will com a parceria do John Green, lembro ter gostado bastante. Pretendo ler esse também. Bela resenha.
    bjs xx
    http://lendocomela.blogspot.com.br/2016/08/rangers-ordem-dos-arqueiros-ruinas-de.html

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    1. Oi Micaela ^^
      Pode ter a certeza que você não vai se arrepender dessa leitura! A divisão dos "capítulos" atrapalha um pouco, mas nada que tire a grandeza desse livro singelo.
      Bjs

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  • Pretendo conhecer esta obra tão singela, não me lembro de ter algo com a temática tão bem abordada, desta visão. claro, já li Will & Will, mas não acho que se assemelhe em todo, pela resenha que você deu. Fiquei intrigada e ao mesmo tempo emocionada, pois mesmo nesta época em que temos um conhecimento aprofundado sobre o assunto, muitos não sabemos como realmente foi e é ser gay, tanto antigamente, como nos nossos dias, em que vemos um preconceito velado, fingido.
    Um beijo!

    Blog Insaturada

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    Respostas
    1. Oi Allana ^^
      Will & Will não aborda muito a questão de ser gay e a sua história, é mais isolado no que os personagens estão sentindo. Já com "Dois Garotos Se Beijando" tudo é diferente, você vê o passado de sofrimento e busca de aceitação graças aos pensamentos desses espíritos trabalhados na purpurina.
      É simplesmente fantástico esse livro! É um tapa na cara da família tradicional brasileira. :D
      Quando puder, não recite em dar uma chance para essa obra, a leitura é enriquecedora.
      Bjs

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