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[CRÔNICA] AMORES LIVRES

Por Leandro Salgentelli •
sexta-feira, 5 de junho de 2020


Sempre tive uma ânsia de entender os relacionamentos amorosos e longínquos que nos adequamos. De certa forma, sempre foi uma incógnita porque lá ínfimo da minha existência permanecia a inquietação: como alguém consegue permanecer em um relacionamento que não vai trazer retorno emocional? Claro que todas as divagações chegavam ao campo da razão. E essas indagações todas retornaram após ler “O mundo pós-aniversário”, de Lionel Shriver. A autora é daquelas que não se conforma com o convencional. Seus livros trazem temas da realidade e a cada página somos sucumbidos à desconstrução de tudo aquilo que acreditávamos como certo.

Nesse livro em especifico aborda o relacionamento de um casal americano. Irina, protagonista da trama, é casada com Lawrence, um homem culto e perspicaz. E todos os anos o casal comemora o aniversário do amigo de Lawrence, Ramsey Acton, um famoso jogador de sinuca. Até que em um desses aniversários Irina, num momento repentino, tem o desejo de beijar Ramsey. A partir desse acontecimento o livro se divide em dois: retrata a vida de Irina embarcando nesse mundo desconhecido do impulso erótico e desmembra a vida da protagonista reprimindo o desejo.

A partir dessa escolha, durante as 542 páginas, Shriver nos leva para admissão de um relacionamento satisfatório, e suas nuances, até a crueza da infidelidade. A certa altura do livro indaga: “Mas é engraçado como aquilo que nos atrai numa pessoa é o mesmo que passamos a desprezar nela”.

Falar sobre relacionamento é muito delicado. Admiro a ferocidade de Shriver por trazer esse assunto para conversamos numa mesa durante o jantar. Porque desde quando passei a ler Simone de Beauvoir, a qual rasgava o peito para trazer à tona toda sua veracidade, ainda no século XX, compreendi que a sociedade precisava amadurecer muito para lidar com a complexidade do próprio corpo, dos limites do próprio corpo.

Penso que o relacionamento monogâmico, este que passamos adiante, pai-mãe-filho, ultrapassam as limitações da estreiteza no convívio. É delicado o assunto porque temos uma falsa impressão que este é o único caminho para se ter uma vida bem aproveitada de fato. Quando nos relacionamos, esperamos algum retorno emocional, de certo modo temos, mas a pergunta que fica é: por quanto tempo?

Ao nos relacionarmos nesse modelo patriarcal estamos fadados à submissão. Abrimos mão das vontades, dos desejos, deixamos de ir a certos lugares porque desagrada o parceiro. O que pouco se discute é que mudamos nossa personalidade para caber no conceito do outro. Até que num dado momento a dependência emocional é tamanha que não vemos alternativa a não ser aceitar essa resignação. E esse é outro ponto: a perda da identidade.

É doloroso admitir que o casamento seja uma instituição falida. Como é doloroso admitir para mim mesmo que não é normal sentir uma pequena morte a cada fim de relacionamento. Que tipo de amor é esse que causa uma desorganização psicológica tão grande a ponto de perder o tino? Que sonhos são esses que apostamos num relacionamento para sentir tanta fragilidade? Que nível de frustração é essa para nos desestruturar tanto? E a pergunta que mais me toca, que faz repensar todas as minhas relações: que ideia é essa de sermos salvo de modo que a saúde física e mental ficam abaladas?

Os números de divórcios aumentam a cada dia que passa porque a convivência muitas vezes nos leva abrir mão do que está no intrínseco. Não vejo esse aumento como algo ruim, pelo contrário, acredito que a sociedade está atenta a fragilidade e aos desequilibro desse modelo de se relacionar.

Há uma nova geração surgindo que aposta no modelo afirmativo. São homens e mulheres que acreditam na liberdade, na autonomia e responsabilidade. Trazem a ideia de construir relacionamentos de um jeito que possamos ser honestos e abertos uns com os outros, de modo que sentimos e vivemos também nossa sexualidade. Relações livres se faz tão necessário numa época em que ainda carregamos cicatrizes emocionais das agressões cotidianas que vivenciamos.

Amores livres talvez passem por aquele processo de amadurecimento onde se percebe que é preciso preservar a individualidade, falar sobre sexo abertamente e, sobretudo, sentir-se livre para desejar.

Eu mesmo já rebati esse conceito, mas devo admitir, hoje, depois da sagacidade de Shriver, que a partir daquele beijo onde apresenta as possibilidades de desfechos, que resultaram nas motivações mais intimidas da personagem diante da escolha de dois homens opostos, por mais consolidada seja uma relação, por mais longínquas que aparenta ser, aquilo nos atrai é o mesmo que podemos passar a desprezar.

Amores livres talvez passe pelo conceito de que é preciso conviver com a incerteza e a insegurança. Porque nenhum amor — nenhum — pode ter a arrogância de afirmar uma vida vitalícia, pois sempre teremos a opção de abrir a porta e ir embora.

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3 comentários:

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