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ROMANCE PARA A VIDA

Por Francine S. C. Camargo •
domingo, 5 de maio de 2019
“Amar a si mesmo é o começo de um romance para toda a vida.”
(Oscar Wilde)


 Então eu a avistei com seus limites imprecisos.

 De vez em quando, dou uma espiada aqui dentro, a fim de não me esquecer de mim e avaliar a quantas anda a minha baderna interna. Mentira. Olho o tempo todo. É que, em grande parte do tempo, não gosto do que vejo. Assim, busco algo mais concertado na periferia, já que o centro em si não me desperta orgulho. Mas sem magnetismo, desisto.

 Olho para fora.

 Toda a população ao redor é mais interessante. Todo o mundo tem luz própria, todos andam com passadas largas, com direcionamento. Mentira. Talvez estejam igualmente perdidos e ilhados em suas questões, mas parece que sinto suas dores, seus fantasmas e suas deserções. Tudo isso é mais chamativo, mais real. Tenho sede das pessoas e fome de sentir o que elas carregam.

 Retorno a mim.

 Dentro aqui enxergo escuridão em uma mente lúgubre, que habita um corpo incrédulo. Não vai a lugar nenhum, pois suas raízes estão fincadas profundamente na terra. Mas não há vazio, só que me vejo disforme, irreal, desconectada. O que me leva a ficar com a boca seca, mas não busco água. As entranhas estão ocas, mas o alimento já não nutre. Aqui há medos e gritos querendo ser expulsos em jatos, entretanto não é bonito o que tenho a expelir.

 Amo o outro e isso me basta.
 Caí. Estaquei. Adormeci. Silenciei. Resfriei. Anestesiei. Vedei. Enganei. Menti. Menti. Menti. Findei. Resisti. Levantei. Ousei. Berrei. Senti. Abri. Revelei. Articulei. Pari. Revivi.

 Então a avistei, já com os limites bem definidos. Não entendi se era bonita, e sim autêntica. Não avaliei sua profundidade, mas parecia não acabar mais. Se estava certa, nem pensei, pois ela estava inteira. Nem bem legível ela era, mas me ocorreu estudá-la. Não me perguntei sobre o nível de sua força, pois meu intuito era carregá-la. Tampouco interroguei se aguentaria, pois eu a via drapejando em minha direção.

 Era mais uma. Era o outro. Mas o maior disparate foi entender que era eu.

 E pude assim começar minha história de amor.


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1 comentários:

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