
Gosto de ir à baladas, a barzinhos, tomar uma cerveja, agregar contatos, no entanto, o pouco se sabe que é desses lugares que tiro inspiração para escrever. Seria eu um boêmio? Eu não gosto de protocolo, então a definição mais próxima que me chega é o que coloquei no Insta: bebo com frequência porque acredito que o inusitado da vida está numa mesa de bar.
Eu vou à balada para dançar, para divertir, mas, também, para observar. E ali identifico uma geração que está a caminho de um futuro mais aberto, por outro lado, uma geração que ainda segue o que está no script.
Vejo homens e mulheres que não sabem dosar o lado narciso, que querem impressionar sabe se lá quem. Vejo homens e mulheres que querem o status, a logomarca do estabelecimento — como se o obtivesse dali sairia com algum lucro, enfim, são homens e mulheres que querem o ideal.
E é aí que entra a questão. Quando penso em “ideal” essa palavrinha vem com peso (não é por causa das aspas), mas, sim, pelo que catalogamos como ideal. Ideal de corpo, de comportamento, de se vestir, de ser.
Um exemplo que não posso deixar de mencionar é que, como trabalho com Assessoria de Imprensa, muitas vezes preciso tirar foto das pessoas que trabalham comigo e sempre ouço: “Depois você coloca um photoshop, tá!”. Como se o rosto e o corpo tivessem algum problema, e por causa disso, não podem ser colocado às fotos no jornal como de fato são.
Outro exemplo riquíssimo é o relato da maquiadora Vanessa Rozan, que em entrevista ao canal Projeto Estelar, no YouTube, disse que em todo lugar que vai ministrar palestras as pessoas querem aprender a afinar o nariz. “O nariz é uma problemática do Brasil que esconde um monte de outros problemas: apagamento de memória, racismo, dificuldade de aceitação do nosso biótipo, dificuldade de aceitação da nossa miscigenação, imposição de um padrão que vem de fora...”.
E aí entra outra questão, como mencionou, cultural. A nossa sociedade catalogou como ideal a mulher que não tem celulite, a mulher que não tem estrias, a mulher do cabelo liso, a mulher magríssima. No entanto, vale frisar: tudo isso pode ser uma escolha natural quando a mulher tem a consciência desses padrões impostos.
Ideal para mim sempre foi algo abstrato e inatingível. A vida é prática. Não temos tempo para photoshop, para a maestria. A vaidade deve ser bem-vinda, sempre, pois se trata da autoestima. Mas é preciso também lidar com a imperfeição. Porque é a partir dela que a gente passa a compreender que o ideal de corpo, de maquiagem, de roupa, de sapato, de qualquer coisa, pode ser uma forma de empoderamento — ou uma prisão quando ninguém mais conseguir viver sem a estabelecida beleza ideal.
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